19.1.13

O livro de Tyler



Nele há uma história de amor, recheada de pequenos fatos, momentos minúsculos em tempo mas grandiosos em sentimentos. Há a vida de uma forma que nunca viu antes. Ele lê pouco a pouco, um pouquinho em cada dia. Nele ele aprende com os acertos e erros dos personagens e consigo pensa em muitas coisas, sozinho, debruçado nessas vidas que vão indo hora em linhas retas, hora em linhas tortas. Tem muitos pensamentos à respeito, tem às vezes medo do que poderá encontrar na próxima página: esses dois são muito turrões, principalmente a Lira (protagonista da história). Será que não percebe que ela só está a protelar sua felicidade, enchendo as coisas de incertezas e dúvidas? Tyler se pergunta isso a praticamente cada vinte e tantas páginas. Lira é uma personagem ingênua e ao mesmo tempo descontrolada. Tyler ri muitas vezes, outras pensa em jogar o livro fora. Mas não, não se pode fazer isso com as palavras. Ele sempre lê o livro nos finais de tarde, na calmaria da sua poltrona com sua colcha de linho grosso em tom crú, com os pés sobre o almofadão marrom que fica sobre o pufe cinza opaco. Onde? No mezanino, que é o terceiro andar da casa, seu esconderijo de qualquer perturbação. Pra lá sobe com seu café, pronto pra Lira e Arthur. Paris parece ser linda segundo as descrições do livro. Lira sempre fala do céu, das ruas, das muitas taças de vinho e da música que se escuta em ruas de luz amarela, num dos bairros mais charmosos que ela diz que tem por lá. Será que é assim, ou será que essa é uma ficção em todos os sentidos? Ao menos romântico parece. Mas Lira é tão dramática que combina mais com tango do que com a música parisiense, imagina. Tayler também se encanta com o espírito de aventura que a Europa transcende pelas palavras de Arthur. Como ele parece livre, leve, jovem. Não pela idade, mas pela forma colorida e simples que vê a vida. Pra ele a vida é viver e amar. Amar é simplesmente amar, não se apoderar de nada e nem ninguém (como Lira julga muitas vezes). Outra coisa que Tyler aprendeu é a cultivar as vivências, em família, com sua futura primeira namorada (um dia vai ter uma), com as pessoas. Se está nesse mundo para viver, viver bem, tratar as pessoas bem, se ama é pra se amar, se acariciar, se ajudar, se estimular, se entregar. Lira não vê nada disso, Arthur faz tudo, Lira não percebe nada. Aprendeu também que trabalhar faz parte, mas se você for ser pobre numa cidadezinha qualquer, você também pode ser pobre em Londres, Paris, Veneza, Moscou, Madri, Bali, Sidney, Rio de Janeiro, Miami, Istambul. Agora ele pensa assim: sub-emprego tem em qualquer lugar. Tayler se deixa influenciar muito pelos pensamentos de Arthur. Outro dia disse pra mãe que qualquer lugar do mundo se pode lavar pratos, que a cabeça quadrada e fechada desse pessoal da sua pequena cidade não combina com a dele. O que pessoas que nascem assim, todas conhecendo as outras, podem esperar de novo uma das outras? Dezoito mil habitantes na sua cidade versus 8 bilhões no mundo. Tyler quer o mundo, Tyler que mais, Tyler quer terminar o livro. Essas pessoas (ainda que personagens) já viram muito mais que ele. Tem mais livros esperando. Tem mais "gente" querendo lhe contar os segredos desse mundo, que pra ele vai ficando a cada página menos distante.

#leiamais

Thais Siqueira

Nenhum comentário:

Postar um comentário